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“Educar para a cidadania Global”: uma parceria que pretende formar cidadãos mais inclusivos

Atualizado: 20 de jan. de 2021

O projeto “Educar para a cidadania Global” começou em 2019 e é uma parceria entre três instituições: a Organização de Estados Ibero-americanos, o Centro de Formação Júlio Resende e a faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Rui Vieira Cunha (texto e fotografia)



A iniciativa de Educar para a Cidadania Global pretende dar “contributos para a área curricular de Cidadania e Desenvolvimento nas Escolas” através do “levantamento das práticas e experiências” em escolas que se associaram ao projeto, do “reforço da formação de professores e ainda da “criação e/ou aperfeiçoamento de metodologias e materiais de apoio ao trabalho nas escolas”, explica Júlio Santos, docente da faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto


Nos dias 26 e 27 de novembro ocorreu um seminário online em que participaram mais de uma centena de professores, na primeira parte foram apresentadas algumas atividades realizadas em escolas parceiras, todas no concelho de Gondomar, porque o Centro de Formação Júlio Resende está situado no conselho. Na segunda parte foi “mais sobre o projeto e uma análise preliminar de alguns dados sobre a implementação desta área curricular”.


O docente da FPCEUP, um dos responsáveis pela iniciativa revela, em entrevista ao SATÉLITE, que o seu trabalho na área começou com o Centro de Formação Júlio Resende na “proposta de formação necessária para professores de cidadania e desenvolvimento, de professores de todas as outras disciplinas e também os coordenadores de Cidadania e Desenvolvimento”, explica Júlio Santos.


Objetivo das formações


Júlio Santos, enquanto responsável pelas formações, esclarece que o projeto “não é apenas de formação, “é também de investigação porque nos interessava também conhecer como é que esta área está a ser implementada nas escolas e agrupamentos.” Nomeadamente, “os desafios, as oportunidades, as barreiras, que aprendizagens estão a ser realizadas nesta área tanto pelos professores, pelos coordenadores, também pelos alunos.”


Para conseguir perceber esta dinâmica, a equipa dedicada à investigação composta por professores e alunos da Universidade do Porto fez 15 entrevistas a professores e coordenadores” onde se tentou perceber “o papel dos professores e coordenadores e a existência ou não de estratégias para a cidadania das escolas, quem as construiu, que materiais estavam a ser usados e ainda o impacto do covid”, conta Júlio Santos.


Tendo em conta o aparecimento da pandemia a meio do processo, a equipa decidiu analisar também o programa “Estudo Em casa”, mais concretamente a parte “que incluísse cidadania e desenvolvimento”.


A postura dos professores


No que toca à disponibilidade dos professores para aderirem à área da cidadania e desenvolvimento, Júlio Santos refere que “tem havido uma grande aceitação desta área e um reconhecimento da sua importância”. Neste sentido, reforça que os professores percebem a importância da área para trabalhar uma série de competências de trabalho com os alunos e com os próprios professores”, numa altura marcada pela crise provocada pela COVID-19.


Eugénia Vieira, professora e coordenadora de cidadania e desenvolvimento na Escola Secundária de São Pedro da Cova, conta que um dos desafios enquanto coordenadora é “motivar toda a gente, principalmente motivar os colegas” porque, numa fase inicial, ninguém conseguia perceber bem em que consistia o projeto, visto que a cidadania não é só uma disciplina, neste caso, é uma estratégia da escola”. Ora, os professores ficaram com ideia que “era mais do mesmo, porque nós já ensinávamos muitos dos domínios de cidadania e, portanto, era mais uma disciplina”.


Para Eugénia Vieira a forma de motivar os colegas é explicar o que muda, nomeadamente em relação à flexibilidade curricular “que não é fácil de introduzir, portanto, o que funciona é não levantar muita onda. Depende da forma como falamos com as pessoas. É preciso uma postura pedagógica, o que funciona com as crianças também funciona com os adultos”, conclui a professora.


A docente com a pasta de Cidadania e Desenvolvimento ressalva que o corpo docente já realizava muitas atividades de cidadania sem ter noção que podia incluí-las no documento relativo à estratégia da nova área curricular. Esta estratégia vem, por isso, “obrigar os professores a colocar as evidências, a especificar e, principalmente, a ganhar prática”.



Empatia, a chave para o sucesso


Uma dessas competências é a empatia, perceber “como é que os outros se estão a sentir, em relação a isto (pandemia), o mundo e crianças e alunos até noutros contextos com mais desvantagem social e económica que o nosso”. A resiliência é outra das competências apontadas pelo docente, que dá ferramentas para “a partir desta crise, desta incerteza, trabalhar as questões da resiliência em nós próprios, mas também no quadro da escola e da turma e até das próprias instituições e do sistema educativo.”, afiança Júlio Santos.


Neste sentido, Júlio ressalva que a chave está “nos pensamentos, em tornar as escolas mais resilientes, os sistemas educativos mais resilientes e fazer-nos pensar como é que vamos sair desta crise?”


Eugénia Viera afirma também que a estratégia da escola privilegia as atitudes, mais do que “os conhecimentos que estamos a ministrar porque todas as disciplinas ao fim ao cabo tocam esses conhecimentos também.” O principal objetivo é que” eles sejam pelo menos cidadãos educados, compreensivos, tolerantes, voluntários e críticos.”


O Desenvolvimento também faz parte da disciplina


Júlio Santos relembra que “a educação tem de ser um bem comum, global para todos. Este projeto é sobre a importância e a relevância da educação para a cidadania global.”

Assim, o docente da FPCEUP aponta para os esforços no combate à pandemia, “uma questão global que tem de ser resolvida também com respostas globais. Vê-se a questão da vacina e as questões da comunidade internacional se mobiliar para resolver a questão de encontrar uma vacina, portanto tem de haver para os problemas globais respostas globais.”, relembra Júlio Santos.


Para conseguir implementar ações globais, segundo o responsável, é preciso “trabalhar para formar também cidadãos que pensem o mundo, que compreendam o mundo, o momento histórico que nós estamos a viver e eu penso que esta disciplina de alguma forma nos ajuda a situar, a contextualizar tudo isto”. Mas lembra que o ponto de partida é o contexto local, neste caso Gondomar, porque “não vale a pena estar a tentar dizer que vamos resolver os problemas do mundo se vemos os problemas que estão dentro da sala de aula (desigualdade, indiferença, falta de empatia).


Este é um facto abordado também por Eugénia Vieira, professora numa escola Teip-Território de intervenção situada numa freguesia com um contexto social mais complicado. Uma realidade presente quando são abordados temas como a literacia financeira, a professora conta um episodio vivido na aula em que falou sobre o assunto e uma aluna perguntou “e quando os filhos tem de emprestar dinheiro aos pais e partir o mealheiro para eles arranjarem o carro?”.


Eugénia Vieira revela que é em situações como esta que se percebe “quem são os miúdos a quem lhes é dado muito dinheiro e os que não é dado dinheiro nenhum.”, confessa a professora.


Os três C's


Júlio Santos releva a importância de três palavras começadas por C: Currículo, Cultura de Escola e Comunidade.


Para conseguir implementar estes três C’s é preciso que a “cidadania não ocorra apenas quando está tudo 45 minutos numa aula de cidadania e desenvolvimento. Não faz sentido, não é por aí”, alerta Júlio Santos.


O mesmo defende Eugénia que se queixa do tempo dado à disciplina, “um tempo de quinze em quinze dias, e 50 min de quinze em quinze dias não é nada.”


A professora considera que no futuro é preciso não só “repensar melhor a estrutura dos horários e o horário de cidadania como também dos programas todos e poder-se-ia deixar algumas coisas de cidadania com uma chancela noutras disciplinas, para a disciplina de cidadania, que está no básico, poder alargar-se para a cidadania global.”, sugere Eugénia Vieira.


Júlio Santos defende que “todas as áreas podem ser cidadania e todos os professores podem fazer cidadania”. Eugénia Vieira não podia deixar de concordar.


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