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"A Life on Our Planet": a beleza do planeta sob a forma de murro no estômago

Atualizado: 20 de jan. de 2021

Angustiante, inimaginável e assustador do primeiro ao último momento.

Ana Isabel Ribeiro (texto)


Fotografia: Netflix


David Attemborough é o rosto e a voz dos documentários sobre a natureza e vida selvagem. Durante 57 anos de carreira deu-nos a conhecer criaturas nunca antes vistas, ecossistemas que respiravam vida e intocáveis pelo homem. E quanto mais nos fascinava, mais crescia o bichinho de o destruirmos.


Assistimos a manifestações a favor do clima, apoiamos ativistas, temos um comentário reprovador sobre o excesso de combustíveis fósseis. Mas o que fazemos na realidade para mudar a situação?


À medida que as décadas foram passando os humanos sentiram-se no direito de explorar a natureza e tratar as espécies como se fossem objetos descartáveis. Matar baleias com uma violência tremenda que enche o mar de sangue passa a ser normal para a espécie que tinha presenciado violências semelhantes que dizimaram grande parte da população mundial.


Os nossos predadores foram dominados e as doenças extintas, mas ao mesmo “sentimo-nos na obrigação” de desempenhar o papel de predador.


Atualmente nada nos detém, a não ser que sejamos nós próprios a fazê-lo. Exploramos solos como se não houvesse amanhã, transformamos animais outrora selvagens em domesticados para nos alimentarmos, cortamos milhões de árvores, porque nos dá jeito. Vamos continuar a consumir a terra até a esgotarmos.


Quando nos dizem que as gerações futuras não vão testemunhar o que temos hoje reviramos os olhos. Por egoísmo? Por incredibilidade? Talvez. Vivemos numa utopia se pensamos que é impossível o planeta deteriorar-se tanto dentro de dez ou vinte anos que já não seja metade do que é atualmente. Mas é verdade.


Como diz Attemborough “nenhum ecossistema, por maior que seja, está seguro”. E este, caminha para o abismo.


Em 2030 os cientistas preveem que a Amazónia se transforme num deserto de cinzas. Em 2080 que os solos deixem de conseguir produzir alimentos e que grande parte do mundo se torne inabitável, porque a temperatura aumenta 4 graus até 2100, deixando milhões de pessoas sem casa.


Hoje resta-nos apenas 35% de natureza selvagem. Como será no tempo dos nossos filhos, netos e bisnetos?


Hoje conseguimos chegar a ilhas no Ártico de barco, porque as enormes camadas de gelo derretem. Nos mares, os corais perdem a cor, a sobrepresca deixa o oceano sem vida, a poluição e os incêndios transformam o belo em trágico.


Chernobil é uma cidade fantasma há 30 anos. Porquê? Porque a ação do homem assim o determinou. Queremos um planeta assim? Queremos esgotar o pouco que ainda temos?


A solução é uma só: preservar a terra, renaturalizá-la, devolvendo o que lhe tiramos.


A maior parte dos documentários sobre natureza mostram apenas melhor. Mostram-no de tal forma que acabamos por assumir que “o melhor” é só o que existe. Depois há outros que mostram o real, que nos provocam desconforto, horror e culpa, porque nos sentimos cúmplices de um crime. A Life on Our Planet é um destes. Brilhante, mas angustiante.



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