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As liturgias de Cristina

Atualizado: 20 de jan. de 2021

É a figura do momento da televisão portuguesa. 2020 foi ano de mudança para Cristina Ferreira. Substituiu o megafone pelo tom profético e fala de si própria na 3ª pessoa. São sinais de que está a cumprir uma missão divina.

Ana Isabel Ribeiro (texto)


São quase 22 horas de quarta-feira, dia 25 de novembro, quando escrevo isto. Poderia ser uma quarta-feira qualquer, mas não é, porque hoje pude, finalmente, assistir ao Dia de Cristina.


Lembro-me de ter pensado, aquando do aparecimento da frase “Setembro é já amanhã”, que Cristina ia aparecer o dia inteiro. Íamos vê-la de manhã à noite.


Na minha cabeça, todos os trabalhadores da TVI iam ser despedidos, porque ela ia apresentar tudo e até ia ser a personagem principal das novelas.


Ficava “Cristina da Manhã”, “Cristina na TV!”, “Cristina da Uma”, “A tarde de Cristina”, “Jornal da Cristina”, “Cristina me Quer”, “Amar Cristina”, “Big Cristina”, e por aí fora. Mas afinal não (quer dizer, pelo menos para já. Está a ir devagarinho).


Sempre que Cristina fala, parece o tempo de antena que reservam para os partidos quando estamos em tempo de eleições — “O tempo de antena que se segue é da exclusiva responsabilidade dos intervenientes”. Entra o genérico e 1,2,3, está no ar o “Cristina fala ao país”.


Cristina largou o megafone (bem, de vez em quando ainda lhe foge o pé para o chinelo, mas vá!) e substitui-o por um tom litúrgico. O estilo galhofeiro que usava em cada programa transformou-se numa autêntica liturgia. É um tom profético, como se estivesse na terra a cumprir uma missão divina — talvez sejam as influências deixadas pela Nossa Senhora de Fátima no conhecido vestido branco.


É uma missão tão divina que até fala na terceira pessoa “O dia de Cristina é quando a Cristina quiser”. Qual é a pessoa que fala de si própria na terceira pessoa? Volto a dizer, ela está em missão divina.


Cristina é uma entidade súbita que sai de si própria para idolatrar e aplaudir o que ela mesma diz. “Prestem atenção às minhas palavras cuidadosamente escolhidas. Absorvam toda esta inteligência que emana de mim.”


Acho que o meu pensamento inicial de termos Cristina o dia todo está prestes a cumprir-se. São quase 21h30, o jornal está quase a acabar e acabam de anunciar que a seguir vem a Cristina Ferreira apresentar o futuro (pelo andar da carruagem, a Maria Helena e a Maya vão para o desemprego).


“Para cima de menina que ajudava os pais na feira”, poderia ser o título da sua biografia. Cristina Ferreira cresceu. Já não é apenas a mulher, filha de pais feirantes, que nasceu na Malveira.


Tem um cargo na direção, um bocadinho da TVI, um programa (altera os programas dos outros), um livro que está em primeiro no top de vendas da Bertrand e umas luvas de lantejoulas, provavelmente da Cristina Collection, que refletem a mensagem “vou cometer um crime sem deixar marcas”.


Bem… crime ela já fez. Tirou o Cláudio Ramos do Big Brother e acaba de dizer que a Fátima Lopes vai trabalhar ao sábado à noite…. Nem é mau! Pensei que eles iam fazer as televendas, às quatro da manhã.


Hoje Cristina Ferreira pode estar na ribalta, mas é importante não esquecer (ela mesma faz questão de frisar) que ainda sabe onde ficam as estacas!

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