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"Alguém Tem de Morrer", um retrato brutal da Espanha homofóbica e franquista

Atualizado: 20 de jan. de 2021

A estreia espanhola da Netflix, Alguém Tem de Morrer, da autoria de Manolo Caro, causa emoção e revolta com a representação dos preconceitos da sociedade franquista. Ainda assim, a abordagem superficial dos seus temas deixa a desejar.

Rui Vieira Cunha (texto)


Fotografia: Netflix


A narrativa de Alguém Tem de Morrer foca-se no regresso conturbado de um jovem, emigrado no México, que traz consigo um amigo bailarino. Esta chegada não é bem vista pela família, nomeadamente pelo pai e pela avó, que desconfiam da existência de um relacionamento entre os dois jovens e repudiam a prática da dança por parte do género masculino.


Os preconceitos em relação à orientação sexual e papeis de género estão representados de forma bastante credível, tanto pela caracterização das personagens, como pelos diálogos e prestação dos atores. Quem vê a série consegue sentir o desprezo e o ódio que Amparo (Cármen Maúra) e Gregório (Ernesto Alterio), brilhantemente interpretadas, nutrem por Gabino (Alejandro Speitzer) e Lázaro (Isaac Hernández).


É, aliás, na transmissão de emoções que reside o ponto forte da série, que ganha na capacidade de despertar a empatia do público perante as duas personagens principais e Mina (mãe de Gabino, vítima de violência doméstica).


É praticamente impossível que o espectador não se indigne com as cenas que representam a realidade cruel de que eram, naquela época, vítimas os homossexuais - e, apesar de a série se passar nos anos 50, é criado um paralelismo com os preconceitos de que a comunidade LGBTQ+ é, ainda hoje, vítima.


Por outro lado, um ponto negativo reside na curta duração da história, que é contada de forma um pouco apressada. A temática tinha inúmeros aspetos a ser retratados e que acabaram por ser mostrados de forma bastante superficial. Por exemplo, o contexto político: a Espanha vivia numa ditadura e isso não foi suficientemente referido. O autor parte do princípio de que o espectador já é conhecedor desse facto.


Também a componente da dança foi pouco explorada, tornando-se quase num adereço da relação entre Lázaro e Mina.


Além disso, algumas personagens e partes da narrativa não foram muito bem explicados e acabaram por passar quase despercebidos, como é o caso do núcleo familiar comunista.


Em suma, esta é uma série que nos emociona e revolta com uma representação forte do que eram os preconceitos da sociedade franquista, mas que peca pela abordagem superficial dos seus temas. Apesar da excelente caraterização das personagens e da prestação excelente de alguns atores, a narrativa curta compromete o seu potencial.

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