top of page

Audácia, persistência e determinação. Eis Alex Mount

Atualizado: 20 de jan. de 2021

Chama-lhe “a luta pelo sonho”. Alex Mount tem 22 anos e está entre os melhores jogadores do hóquei em patins. Aos 16, fez história, quando sob o olhar atento do treinador Carlos Amaral, trocou Inglaterra por Portugal para jogar no “melhor campeonato do mundo”. “Sou o primeiro jogador inglês a fazer isto”, conta.

Ana Isabel Ribeiro


Alex Mount no Parque Urbano do Rio UI, em São João da Madeira. Fotografia: Ana Isabel Ribeiro


“O meu sonho foi sempre jogar a nível profissional e em Portugal a competição é melhor, é mais forte. Sabia que se queria jogar na melhor competição do mundo tinha de vir para Portugal. Esse era o meu objetivo. E aqui estou”.


Foi assim que começou a entrevista ao jogador de hóquei da Sanjonense e internacional da seleção inglesa, Alex Mount.


Natural de terras de sua majestade, onde o futebol é rei, Alex escolheu o hóquei, muito por influência do pai que o levava a assistir aos treinos da Academia Local em Canterburry, Kent. Hoje, é um exemplo a seguir dentro e fora do rinque. Iniciou a carreira com a mesma garra que traz hoje, característica que sempre teve, assim como a simpatia, o cavalheirismo e o fair play.


Apelidado de “Golden Boy”, o melhor marcador da liga inglesa falou sobre o clube, a seleção, a falta de investimento da modalidade em Inglaterra e os planos para o futuro.

No início da conversa, o entrevistado solicitou que a forma de tratamento fosse o “Tu”.


Alex, quando é que começaste a interessar-te pelo hóquei?

Quando tinha 13 anos. O meu pai ia ver os treinos do hóquei da sénior de Inglaterra e levava-me com ele. Entretanto comecei a patinar e a partir dai a jogar no Herne Bay United .

Inglaterra foi o país impulsionador do hóquei, mas é também o país que mais prestígio perdeu neste desporto. Foi isso que te levou a vir jogar para Portugal?

Sim. O meu sonho foi sempre jogar a nível profissional e em Portugal a competição é melhor, é mais forte.

Sabia que se queria jogar na melhor competição do mundo tinha de vir para Portugal. Esse era o meu objetivo. E aqui estou.

Mas como é que funcionou vires para cá? Foi o teu treinador, foste tu?

Foi o selecionador de hóquei de seleção inglesa. Ele [Carlos Amaral] é português. Chegou a ser treinador do Porto durante um ano nos seniores.

Antes de vir para cá, eu já jogava na seleção. Ele tinha contactos aqui e foi assim que consegui vir.

Como é que foi a adaptação a um novo país? A uma língua diferente, teres de viver sozinho…

A língua foi muito difícil para aprender, porque em Inglaterra eu não falava outra língua para além do inglês. Quando cheguei cá, “tive de começar tudo do zero”, como vocês dizem. Tive de aprender.

Como vivi com uma família que falava inglês, a adaptação ao país até foi fácil. Adaptar-me à língua é que foi muito difícil.

E conduzir com o volante do lado contrário foi fácil?

[Risos] Sim, demorou um mesito para me habituar, mas, a partir daí, já era algo normal.

Há pouco disseste que o campeonato português de hóquei é o melhor do mundo. Que diferenças sentiste na competição? Por exemplo em relação ao ritmo de jogos e preparação física.

É tudo muito diferente.

O campeonato de Inglaterra é completamente diferente do português. Lá temos de pagar para jogar e os treinos são só uma vez por semana.

Em Portugal, o ritmo é diferente. Os jogadores já recebem dinheiro e os treinos são entre 4-5 vezes por semana e duram entre uma e três horas.

Outra coisa que é muito diferente é o número de jogos por época.

Aqui jogo todos os fins de semana. Em Inglaterra é só um ou dois jogos por cada mês.

Em Portugal há muito mais competição.


E que memórias guardas do teu primeiro jogo “a sério”, nos seniores?

Já não me lembro muito bem do meu primeiro jogo. Sei que o meu primeiro golo foi contra o Porto.

Acabamos por perder 7-1, mas foi incrível. É o primeiro momento nos seniores que me lembro.

O ADS, clube onde jogas atualmente tem uma grande massa apoiante. Como lidas com os comentários menos positivos por parte dos adeptos quando o jogo corre menos bem?

Com os comentários negativos, às vezes, ficas um bocadinho mal, por assim dizer. Mas tens de ultrapassar e pensar que vais ter um bom jogo, que vais ganhar e que, no final, eles vão dizer bem de ti.

Agora… em todas as competições há momentos bons e momentos maus. Eu tento não ler muito dos comentários, porque às vezes posso ler alguma coisa que não goste mesmo e pode ser mau para mim. Posso ficar com a confiança em baixo e se começar a pensar nisso… Não é bom.

Como é jogar pelo ADS?

É como em todos os clubes. Tem dias bons e dias maus, mas a maior parte das vezes são dias bons.

Como as pessoas dizem “Não é um clube grande é um grande clube”.

Os adeptos são incríveis, somos uma família. É muito bom jogar pelo ADS.

Como é que te preparas para cada jogo? Tens algum ritual?

Eu gosto de me levantar cedo para ir tomar o pequeno-almoço e gosto de estar ativo durante o dia, para quando chegar à hora do jogo não estar a dormir.


"Quero ser o melhor jogador de hóquei do mundo"


A tua equipa anunciou que vai competir para a Taça WS Europa em novembro. A preparação para este tipo de competições é diferente da preparação para o campeonato?

Ainda não tivemos preparação para este jogo, então honestamente não consigo dizer. Vai ser um bocadinho diferente, porque vamos precisar de apanhar um avião. Mas em relação à parte física, acho que não vai ser muito diferente.

O que significou voltares à I Divisão há duas épocas?

Foi o objetivo que nós queríamos atingir e fiquei muito feliz. Foi a primeira vez que fui Campeão Nacional, aqui em Portugal e foi a segunda vez que o ADS foi Campeão Nacional em hóquei.

Tens sido convocado pelo Carlos Amaral, selecionador de Inglaterra. Ainda ficas ansioso por saber se vais ser chamado para a seleção?

Honestamente, não (risos)… eu já sei que a seleção inglesa é diferente. Nós pagámos para jogar o que é mau, muito mau, mas eu só jogo pela seleção, porque quero. Então quando chegar o momento em que eu já não goste de jogar pela seleção ou o selecionador já não quer que eu lá esteja, eu deixo.

Neste momento, gosto de jogar lá. Por isso, já não fico ansioso, não.


Alguma vez te sentiste em desvantagem pela seleção ser jovem e os adversários fortes?

Nós (jogadores ingleses) quando jogámos pela seleção os nossos objetivos são muito diferentes do que, vamos dizer, Portugal.

Estou lá para seguir os meus objetivos. Eu quero estar naquela competição por mim, individualmente.

Penso “quero marcar 10 golos” ou “quero estar a jogar bem”. Quero mostrar o que valho.

A seleção é uma oportunidade para mim. Para mostrar, outra vez, o que eu posso fazer.

Queres mostrar-te também para outros clubes?

Sim. Eu quero ser profissional um dia destes, então… sim. Honestamente, sim. Eu quero mostrar sempre que eu posso ser um dos melhores do mundo. Quero ser o melhor jogador de hóquei do mundo.



Alex Mount no centro de treinos do clube ADS

Fotografia: Ana Isabel Ribeiro


Já passaste por vários clubes e já tiveste vários treinadores. Houve algum que tenha marcado?

Sim. O Carlos Amaral. Ele é o meu treinador quando estou na seleção e já faço treinos com ele há 7 anos. Temos uma relação muito boa e gosto da forma como ele quer jogar. Gosto da maneira dele.


Em 2018, a propósito do Europeu, o Carlos Amaral disse “a liga inglesa é fraca, joga uma vez por mês” e “só temos pernas para 20 minutos. Falta ter pernas para 50 minutos”. Disse também que eras o mais bem preparado.

Como encaras estas palavras?

Ahhh [risos]… eu não sei, honestamente. Eu acho que nós temos pernas para 50 minutos, mas é num ritmo diferente. Temos de pensar que, ao ritmo dos jogos do campeonato inglês, nós temos pernas para 50 minutos.

Temos um ritmo em competições europeias que outros não têm.

Vamos dizer, em Inglaterra eles (jogadores) jogam num ritmo mais lento e depois não conseguem acompanhar os adversários nas competições. Mas em relação a não termos pernas para 50 minutos, eu não sinto isso. Não concordo muito com isso.


Este ano ias outra vez jogar pela seleção para o Europeu, que acabou por ser cancelado. Já esperavas isso, tendo em conta a situação?

Sim, já esperava.

Eu gostava muito de ir. Como eu já disse eu gosto muito de jogar pela seleção, mesmo que tenha de pagar. É uma oportunidade para me mostrar e para ter uma semana com jogos difíceis e contra os melhores jogadores do mundo.


"Acho que deviam de dar mais importância ao hóquei"


Que planos profissionais tens para o futuro? Queres continuar na ADS? Estás à procura de outro clube?

Eu prefiro não responder a isso… Desculpa.


Mas quando eras pequeno, por exemplo, tinhas algum clube onde gostavas de jogar ou que gostasses de assistir aos jogos?

Honestamente, não. Nunca tive um clube onde quisesse estar.

Fui para a ADS e estou a gostar muito de estar lá e de estar aqui (em Portugal).

Tens algum guarda-redes que seja mais difícil para ti enfrentar?

Ui… essa pergunta é muito difícil. Não posso escolher um que ache muito difícil. Todos os guarda-redes têm os seus momentos bons e as suas as falhas. Tens o Girão que toda a gente diz que é o melhor guarda-redes do mundo e eu acho que é um dos melhores, mas há muitos outros que também são do nível dele.

E jogadores?

É igual. Eu próprio gosto muito do Pedro Gil. A maneira como ele joga… É um dos meus ídolos.

Como vês o futuro do hóquei? Desporto é só futebol?

Eu acho que ainda se pensa muito no futebol. O futebol é onde existe a maior parte do dinheiro no desporto, então é óbvio que os jornais escrevam mais sobre isso. Acho que deviam de dar mais importância ao hóquei. Para mim o hóquei é muito mais interessante, mas eu sou jogador, é normal que a minha opinião seja esta.

O hóquei tem aspetos onde é muito melhor do que o futebol. Por exemplo, no futebol em 90 minutos vais ter 5 lances de grande oportunidade de golo. No hóquei tens 30. Isso cria mais ansiedade no público. Faz com que as pessoas se sentem mais para a frente na cadeira para prestarem mais atenção.

És considerado o melhor marcador. Em Inglaterra chamam-te “Golden Boy” . Sentes-te o Ronaldo do hóquei em patins?

Não… não. Honestamente, não. Aqui em Portugal não.

Acho que sou muito falado em Inglaterra, porque vim para Portugal jogar na I Divisão. Sou o primeiro jogador inglês a fazer isso. Mas não me sinto, nem sou o Ronaldo do hóquei… não.

Mas porque é que te chamam assim? Achas que a tua dedicação, o teu esforço comparando com a dos teus colegas é maior?

Não acho que seja pelo meu esforço… não. Tive a sorte de um adepto gostar de mim e foi daí que veio o apelido “Golden Boy”. Acho que não foi mais do que isso.

47 visualizações0 comentário
bottom of page