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Web Summit: A crise climática

Atualizado: 20 de jan. de 2021

As questões ambientais estiveram no centro do debate em várias conferências da cimeira tecnológica mundial em 2020, um ano marcado pelo contexto pandémico.

Rui Vieira Cunha (texto)


Fotografia: CHAIYAPRUEK YOUPRASERT/SHUTTERSTOCK


A rede portuguesa para regenerar o planeta


Ana Salcedo (Zero Waste Lab), Gil Penha Lopes (fundador da empresa Ecolise), Pedro São Simão (coordenador do Pacto Português para os Plásticos) apresentaram o seu ponto de vista e as suas experiências sobre a ação climática numa conferência que contou também com a presença da jornalista Mariana Barbosa (ECO).


A editora do jornal Eco defende que a “regeneração é a forma de prosperar o sistema. Temos de resolver os problemas atuais nos diferentes estados de consciência.” A jornalista apresentou ainda alguns projetos inovadores, nomeadamente uma iniciativa de ciência agrícola - uma cooperativa de consumidores e utilizadores que implementa um modelo económico diferente que a faz “prosperar”. Relembrou também que as ecovillages começaram a ser implementadas na Europa há 59 anos, o que mostra, na sua opinião, “como é possível produzir energia de uma maneira diferente”.


Já Pedro São Simão, coordenador do Pacto Português para os Plásticos, afirma que “quando se luta contra algo, geralmente, consegue-se atingir algum resultado, mas com o plástico é diferente. As pessoas começaram a trocar o plástico por outras opções como o bamboo ou o papel, mas essas opções podem ter piores resultados.”, refere o especialista.


Tendo isto em conta, Pedro São Simão apresenta como objetivo o uso de plástico sustentável para acabar com o seu desperdício e realça que, quando se fala com uma empresa é isso que deve ser explicado, para que elas se possam juntar à luta. "Não é correto dizer que queremos acabar com plástico. Temos de fazer isto de forma colaborativa, não individualmente e juntar todos os esforços. Precisamos de atingir todos os pontos de produção”, afiança.


O responsável pelo Pacto Português para os plásticos não se esquece da luta contra o desperdício alimentar para “um futuro mais sustentável”.


Pedro São Simão referiu ainda que “o projeto começou este ano, mas o número de entidades a participar é maior do que aquilo que se esperava" e termina a sua participação com um alerta: “em todo o mundo, uma grande quantidade de plástico foi lançada, mesmo durante uma pandemia”.


Ana Salcedas, da Associação ambientalista ZERO, considera que “não é possível resolver o problema sem rever os nossos valores. Precisamos de aprender mais com aqueles que conseguem manter uma maior conexão com a natureza, de partilhar conhecimento”.


Ana revelou que a Zero está a iniciar dois projetos. Um é o MEAP, que trabalha com as comunidades locais “para garantir que cada euro investido contribui para um bom impacto na comunidade e na natureza, trazendo mais vida e mais humanidade”. O outro projeto diz respeito aos “brinquedos”, que ainda não fazem parte do “mundo reciclável” e que são um dos maiores focos de toxidade.


Ana Salcedas conclui que este ano foi desafiante, porque talvez tenhamos perdido uma oportunidade de ouro para reavaliar algumas práticas ambientais, mas que "ainda não é tarde para reverter essa cultura de desperdício”.


Por fim, Gil Penha Lopes, fundador da Ecollise, afirma ter visto “muitas coisas interessantes a acontecer. Nomeadamente em Portugal, que acaba de lançar uma plataforma que acompanha todos os ONGs locais e nota um crescente interesse em investir numa economia mais verde."


Por um futuro sem pegar em garrafas de plástico


O impacto do plástico nos oceanos foi o tema da conversa entre Dianna Cohen, Jackson Browne (da Coalinça da Poluição do Plastico) e Melati Wijsen (ativista na ONG “Adeus sacos de plástico!").


Os oradores referiram que, nos EUA, existe um nível elevado de poluição de plástico, mas Melati Wijsen realça que, no Bali existe muito desperdício de plástico porque “as pessoas não estão a pensar no uso a longo-prazo". Pelo contrário, pensam “compro e uso, queimo, enterro e está feito. Longe da vista longe da mente.”

A ativista conta que, na organização, “fazem muitas limpezas e têm muitos parceiros.” Melati confessa que “encontram muito lixo local no rio, mas isto não é um problema local, só da Indonésia, é global!”


Já Jackson Browne refere que o movimento em torno do problema “está a crescer e que as pessoas estão conscientes disso”. Melati conta também que, nas primeiras iniciativas de limpeza com alunos,“perguntava se o plástico é bom ou mau” e os alunos respondiam "é bom”, algo que a chocou. Apesar de reconhecer “que há mais pessoas a prestar a tenção ao problema” nota que ainda existe um conflito e que cabe não só aos indivíduos esta mudança os governos e as empresas também têm de se chegar à frente.


No que toca a soluções, Jackson considera que não é limpar, mas sim parar de usar. E exemplica: “um tomate vem embrulhado em plástico e depois vem num saco de plástico-Quero tomates mas não quero plástico. Eles dão a opção de encomendar mais cedo e peço em papel. Uma vez pedi-la e eles deitaram o plástico fora” Jackson perguntou o que fizeram ao plástico e a resposta foi: "nós reciclamo"s.


O especialista alerta para o facto de “o plástico ter combustível que contém químicos nocivos para a nossa saúde e que está a poluir-nos a todos, a nós e às gerações futuras”, afiança Jackson Browne.


Segundo Melati, a iniciativa “By by plastic bags” já chegou a 40 outros países que implementaram sacos sem plástico e queremos que em bali se faça o mesmo. Temos mobilizado pessoas ao ponto de bali ser plastic free. A conversa pode levar à mudança”.


Para Jackson é importante “identificarmos as coisas simples que fazemos na nossa vida e sabermos as implicações.” O ativista revela que, em casa, cada um tem um “copo com uma etiqueta”, não usam plástico, e conta ainda que já compôs uma música sobre plástico, o oceano e o surf - “if i could be anywhere”.


Melati aborda as iniciativas desenvolvidas em alguns países em que as pessoas recebem dinheiro por reciclar, algo que “gostava de ver implementado na Indónesia.


O futuro da Europa é verde



Fotografia: Nation of Change


As iniciativas da união europeia para reduzir a pegada ecológica foram discutidas num evento que contou com a participação de Frans Timmermans (European Commission) e da jornalista Mariana Barbosa, do ECO.


Para Timmermans, os principais desafios na implementação do Green Deal europeu para 2021 é “reduzir as emissões em 25% até 2030, acelerar a renovação de edifícios e renovar políticas energéticas". Afirma ainda que este vai ser um ano importante para a agricultura e para os transportes públicos, bem como para a passagem para veículos elétricos.


Como concretizar estes desafios? Segundo o comissário europeu, é através das inovações tecnológicas, como a “introdução de novas e modernas formas de praticar a pecuária", ou a construção de edifícios mais sustentáveis com a ajuda de paíneis solares.


O contexto pandémico que a Europa e o mundo atravessam não vai deitar para o lixo este acordo. Timmermans ressalva que “a pandemia não fez a crise climática desaparecer.” Por isso, destaca a necessidade de convergência entre quatro áreas: a construção, o meio ambiente, o transporte e a agricultura. O comissário da UE é taxativo “tudo pode ser feito se todos fizerem a sua parte. Nesta transformação, ninguém fica para trás”.


No que toca à participação de Portugal neste acordo, o país representa para a UE “um dos motores do acordo verde”. Isto porque tanto “o governo, a sociedade e a economia têm contribuído e o país tem ativos para contribuir: população tech-savvy e recursos naturais, como o vento, o a luz do Sol e o mar.


O comissário deixa, contudo, alguns avisos e sugestões, “Portugal, Holanda e Alemanha começaram há alguns anos a usar energia de hidrogénio e isso está a ser ótimo para Portugal, mas se Portugal é capaz de produzir esta energia, deveria ser capaz de a transportar também”. Para isso, deveria, segundo Timmermans, “concentrar-se nos planos transfronteiriços para criar uma verdadeira rede europeia de energia sustentável”.


Relativamente à pandemia, o responsável europeu revela que as pessoas se preocupam com a sua saúde ou trabalho, mas, ao mesmo tempo, entendem que há algo errado com a nossa relação com o meio ambiente "porque a pandemia teve origem nisso". Tendo isto em conta, defende uma “relação mais natural com a Terra”. Timmermans assegura que “o confinamento mostrou melhor ar, melhor ambiente, e as pessoas viram e querem isso mais do que nunca”.


Para que estratégia resulte, o representante da UE não tem dúvidas de que as políticas verdes só “funcionam bem se o vermelho, o social, funcionar bem". Assim, "temos que caminhar em direção à igualdade e não deixar ninguém para trás".


A conferência terminou com a lição que a COVID-19 deu aos europeus: “Aprendemos que a nossa vulnerabilidade é coletiva e que agimos melhor quando estamos juntos como europeus". Comparando março com dezembro, "temos uma melhor compreensão da união a nível europeu", conclui Frans Timmermans.

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