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Web Summit: Lutar pelos direitos humanos

Foto do escritor: jornalsatelitejornalsatelite

Num ano marcado pela pandemia, a cimeira tecnológica não se esqueceu de debater aspetos importantes na luta pelos direitos humanos.

Rui Vieira Cunha (texto)


Fotografia: UNICEF


A luta pelo direito à educação


Henrietta Fore e Muzoon Almellehan, ativistas da UNICEF, marcaram presença no Web Summit para alertar a comunidade intercional para os problemas de acesso ao ensino de mulheres e crianças verificados em algumas partes do mundo. Dificuldades essas que aumentaram com o contexto pandémico, dado o “encerramento” das escolas e a “falta de acesso à internet”, que impedem o formato de aulas à distância. Segundo as ativistas, cerca 1,3 biliões de crianças estão “desarmadas pela economia”, “isoladas” e “sem a educação”, que podia ser o seu “único sentido de routina nas suas vidas”.


Muzzon Almellehan é uma refugiada síria que teve que lutar pelo direito ao Ensino quando, em 2013, se viu obrigada a abandonar a sua terra natal, ficando sem eletricidade e internet. Atualmente, luta para “as muitas crianças que não têm acesso à eletricidade, internet, que caminham quilômetros apenas para encontrar isso e ter acesso à educação", bem como pelas que "não têm acesso ao ensino remoto durante uma pandemia”.


Nesta conferência, as ativistas referiram ainda que “cerca de 2/3 das crianças em idade escolar não têm acesso ao regime de aulas online. Para resolver o problema, a ativista da UNICEF, henrietta fore, sugere a implementação de parcerias entre entidades públicas e privadas que permitam o acesso global à internet. Henrietta revela que estas iniciativas já consegiram “conectar escolas em 30 países” e que o “Banco Europeu de Investimento e o Banco do Sul já se juntaram a estas parcerias, que envolveram vários milhões de euros.

As desigualdades no desenvolvimento humano


Fotografia: Getty Images


Julia Gillard, ex-primeira ministra da Austrália, falou sobre o aumento da desigualdade em tempo de pandemia, referindo que uma crise tão grande quanto esta "expõe e agrava” a desigualdade, nomeadamente, “a desigualdade de género, porque as mulheres têm profissões que estão na linha da frente e ainda têm trabalho doméstico”. Apesar de reconhecer as dificuldades sentidas pelos líderes políticos, lança a questão: “Será que estamos a reconstruir-nos de forma a diminuir estas desigualdades no pós-Covid?”


Na mesma conferência, participou também Jeremy Johnson, CEO da empresa Andela, que vê no futuro oportunidades para reduzir as desigualdades, nomeadamente na “transição para o teletrabalho a longo prazo”. Ressalva ainda que “quanto mais iguais nos tornamos, mais esses líderes podem fazer para lutar por isso”.


Quando questionado acerca dos entraves para o desenvolvimento de empresas tecnológicas em África, Jeremy aponta as “barreiras psicológicas, da baixa reputação do continente na área tencológica”, mas refere que é uma ideia errada - há projetos “a crescer por lá”.


Julia lançou recentemente o livro “Women In Leadership” que pretende passar a mensagem de que “mulheres de ambientes diversos tiveram experiências em comum porque eram mulheres, embora as culturas fossem diferentes". E lembra também que “vivemos num mundo em que as posições de poder são maioritariamente ocupadas por homens”.


Para a antiga primeira-ministra australiana a chave passa por “equilibrar trabalho e casamento", sendo que "as empresas devem criar sistemas que tenham isso em consideração, principalmente com a implementação do teletrabalho”. Julia conclui que podemos usar a tecnologia para destruir esses preconceitos, já que é uma forma baseada em dados que "mostra o que as pessoas fizeram e que dará mais clareza", quebrando, assim, estereótipos.


Jeremy corrobora a opinião da política australiana e afirma que os preconceitos estão enraizados em muitas pessoas - "o nosso cérebro é estruturado de uma forma que nos torna estereotipados e o mundo é construído em torno desses preconceitos”. O empresário conclui ainda que “gerir uma equipa mais diversificada significa obter uma força de trabalho mais produtiva porque existem mais pontos de vista”.


Ricardo Quaresma e a luta contra o racismo


Ricardo Quaresma, jogador da seleção nacional de futebol, esteve presente no Web Summit deste ano e contou como conseguiu atingir uma carreira de sucesso e as estratégias para se manter no ativo há cerca de 20 anos.


Quaresma falou também da luta contra o racismo e confessou que não tinha noção da capacidade que tinha de consciencializar as pessoa para o tema, mas começou a usá-la ao perceber que tinha "tanta gente" ao seu lado e que "ainda há muita pessoa boa neste mundo”.


O craque deixa ainda o aviso a quem o quer calar: “sempre que eu possa defender esse tipo de causas, vou fazê-lo. Somos todos iguais. Todos merecemos ser tratados da mesma maneira. Vou lutar pela igualdade. Vou estar sempre aqui”, remata Quaresma.


Silêncio = Violência


Siyabulela Mandela, neto de Nélson Mandela, marcou também presença numa conferência sobre os direitos humanos para relembrar que “temos a responsabilidade de continuar a combater qualquer forma de injustiça”. A Siyabulela Mandela juntou-se o músico Femi Kuti.


Femi Kuti considera que a opressão “vai existir sempre. Quer gostemos ou não, os direitos da mulher, a escravatura e escravatura infantil, vão existir sempre". "Temos é que nos certificar de que, quando surge uma opressão, acabamos com ela”, conclui o cantor.


Questionado sobre o caso George Floyd e a inércia do governo americano, Kutis conta um episódio que viveu num momento de protestos na Nigéria: “[os polícias] entraram em minha casa e começaram a disparar. Tive de impedir a polícia de disparar”.


Perante este cenário, afirma que “temos de deixar o governo saber que eles ficam com o rótulo de mentirosos, o governo deixou-os atacar as pessoas. É assim que se cometem erros. Agora, está a bloquear as contas bancárias de protestantes. Tem havido demasiada injustiça. O meu pai viu isso, eu vejo isso. O processo está demasiado lento.”


Já o Neto de Mandela alerta para a situação vivida em países como Zimbabue, Tanzânia, Uganda, Sudão do Sul ou Líbia, em que considera que os povos “são oprimidos pela própria casa”, no sentido em que se removeu “o apparteid e os regimes coloniais em regiões africanas, mas a maioria da opressão que se encontra em Africa é a que é permitida pelos próprios africanos.” Siyabulela defende a luta pela justiça - “temos de nos erguer contra todas as formas de injustiça. Pela justiça. A Liberdade que temos hoje não veio sem justiça”.


No que toca à ajuda internacional dada aos países africanos, Femi Kutis considera que “não há muito a fazer, porque há tanta injustiça na Europa e nos EUA. Já passamos por 100 anos de escravatura, 100 anos de colonialismo”. O cantor lembra que este é um processo longo: “é muito fácil dizer que temos de nos erguer, mas isso vai levar tempo. Temos de ser táticos e assegurar que salvaguardamos o nosso continente e o futuro das nossas crianças. Nada vai acontecer do dia para a noite”.

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