A ministra da Saúde, Marta Temido, foi uma das convidadas do segundo dia da Web Summit 2020. Depois de confirmar que o SNS não estava preparado para lidar com o vírus, a ministra destacou a preparação para a 2ª vaga, os impactos económicos da pandemia e o problema com a aplicação STAYAWAY COVID.
Ana Isabel Ribeiro (texto)
Fotografia: Plataforma Media
O primeiro caso de infeção em Portugal foi reportado no dia 2 de março. Poucos dias depois, no dia 12, o país entrava em quarentena. Com comércio e escolas fechadas, milhões de portugueses viram a sua vida restringida a quatro paredes.
Ao mesmo tempo em que uns combatiam o vírus em casa, outros faziam-no nos hospitais, contudo, “O Serviço Nacional de Saúde não estava preparado. “O nosso mundo estava de pernas para o ar e precisávamos de pensar e agir rápido”, revela a ministra da Saúde, Marta Temido.
Numa época em que o número de casos de covid-19 aumentava, assim como as mortes, a ministra revela que Portugal “respondeu a tempo e adotou as medidas certas”, em parte com a ajuda da tecnologia. O facto de o país ter atingido o pico dos casos mais tarde do que os outros países, foi, frisa, “(…) crucial para preparar a resposta. Tivemos mais tempo para reforçar o Sistema Nacional de Saúde, a estratégia nacional, o aumento do número de camas para os cuidados intensivos (…)”.
Ainda que tenha existido preparação, o país passou por uma situação distinta entre regiões. "Portugal nunca chegou ao fim da montanha [de casos]. Estivemos num plateau entre maio e junho, em especial na região de lisboa. Foi muito difícil para nós vermos os outros países com uma situação mais calma e a voltar ao normal”, adianta.
Em relação à preparação para a 2ª vaga, Marta Temido revela que embora tenha sido traçado um plano nesse sentido, o mesmo revelou-se insuficiente dada a imprevisibilidade da situação. “Preparamos a 2ª vaga, mas a subida imprevisível em setembro exigiu uma resposta mais rápida do que o plano inicial”, revela.
Ainda que Portugal registe mais casos do que nunca, a ministra rejeita qualquer tipo de associação entre o aumento do número de infeções e a abertura das escolas. “Não relacionámos a abertura de escolas com o aumento de casos de infeção.” Os convívios sociais são o principal foco de propagação da doença. “Voltar ao novo normal provocou um crescimento na pandemia, mas está relacionado com mais contactos e comportamentos mais relaxados que não estão de acordo com as medidas que temos de ter antes de chegar a vacina, como o uso de máscara”, justifica.
Saúde Pública = Economia
O pico das infeções pode ainda não ser chegado, mas adianta a ministra, não vai existir um confinamento total como o que foi implementado na 1ª vaga. “Estamos num momento diferente e a sociedade e não consegue lidar com uma segunda quarentena total. Vemos as reações. As pessoas precisam de trabalhar e de comunicar. Os impactos económicos iam ser tremendos.”
Para além das dificuldades sentidas pelos artistas, o impacto económico que vários estabelecimentos comerciais e de restauração sofreram durante a quarentena tornaram, muitos deles, incapazes de resistirem a um segundo isolamento. A falta de apoio financeiro por parte do Governo obriga a que muitos proprietários tenham de despedir funcionários ou encerrar os seus estabelecimentos.
Como tal a ministra esclarece que ambos os setores merecem igual atenção por parte do Governo, “Estamos preocupados com as vitimas sanitárias e com as vitimas económicas. Temos de defender a saúde publica e defender a economia”.
O problema da STAYAWAY COVID
Outra das questões sobre a qual a ministra da Saúde falou na Web Summit foi o facto da aplicação portuguesa STAYAWAY COVID ter sido considerada uma das mediadas obrigatórias que os portugueses tinham de cumprir. “Ter uma aplicação que ajude as autoridades de saúde a detetar contactos e impedir que as pessoas fiquem expostas é muito importante. Isto pode ter um grande apoio da sociedade se ela decidir o que deve ser o uso obrigatório da aplicação”.
A grande maioria da população questiona a necessidade de instalar o mecanismo por não ter a certeza se este é seguro. Em novembro a aplicação contava com mais de 2 mi pessoas, mas destes apenas mil colocaram os dados.
Ainda que assim seja, Marta Temido adianta que Portugal tem mais pessoas a utilizar a aplicação para travar novos contágios do que qualquer outro país. “30% das pessoas que receberam o código usaram-no. Isto é uma referencia para outros países”, revela.
Para além disto, a ministra revela que uma aplicação não é a única ferramenta de que o país se pode servir para travar a pandemia. É necessário, salienta, “que se combinem e multipliquem soluções”. Aumentar a capacidade de testes que identifiquem novos contágios, contratar mais profissionais de saúde e continuar com as medidas de proteção levadas a cabo pelos cidadãos são alguns dos mecanismos que, combinados, fazem a diferença.
Comments