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A Política em Cromossomas X

Um "teto de vidro" por quebrar

Editorial

Pelas Frinchas da Porta

O século XXI é espelho da Antiguidade – e dos anos 20, 30, 40 e por aí em diante. Mulheres na política? Onde já se viu! Não são iguais, claro. Os tempos modernizaram-se, mas o mesmo não aconteceu ao papel da mulher na política. Se é verdade que existiu abertura para que ela entrasse no meio, também é verdade que essa abertura se ficou pela frincha. Só passam as mais magras, as que têm cargos pequeninos, porque “pode ser que passem despercebidas.”

O centro político democrático é uma farsa. Porquê? Porque já lá vão dois séculos desde que Carolina Beatriz Ângelo pode votar pela primeira vez. Já lá vão dois séculos de participação da mulher na esfera político-partidária, mas continuamos a vê-las “às pinguinhas” ao longo do território português. É uma aqui, outra ali. É de pensar utilizá-las como propaganda turística.

Imaginemos um autocarro turístico a passear por Portugal. Sempre que passa por uma Câmara Municipal governada por uma mulher promove, estilo circo: “Senhoras e Senhores, meninos e meninas, diante dos vossos olhos está uma mulher num cargo político! Mas não se entusiasmem, ninguém sabe o nome desta localidade!”

E quando forem as visitas ao Parlamento? “À vossa direita, os retratos de António de Spínola, Ramalho Eanes… À esquerda, Maria de Lourdes Pintas… Ah, não, esta não teve direito.”

Se, para meio entendedor, meia palavra basta, Portugal parece não entender quando o tema é a igualdade de género dentro da política. É um caminho, ou melhor dizendo, uma maratona, que a mulher tem percorrido sozinha. 

Este agrupar de papéis de género está ainda muito presente por conta dos valores culturais. Afinal, não foi assim há tanto tempo que saímos da ditadura. Utilizando uma frase do livro das Três Marias “Que desgraça o se nascer mulher! Frágeis, inaptas por obrigação, por casta, obedientes por lei a seus donos, senhores sôfregos até de nossos males.”

Assim, como “não podemos julgar o livro pela capa”, também não podemos colocar a presença da mulher na política como se de um conto de fadas se tratasse e colocar-lhe um ponto final estilo “e viveram felizes para sempre” (cada um com igual representação nos partidos e chefia de cargos), até porque, se assim fosse, a igualdade de género na esfera política não seria meramente decorativa.

Como é que as mulheres entram nas listas dos partidos? E quem lhes atribui os cargos? Esses cargos são relevantes ou são só meras cadeiras preenchidas e um microfone que, quando é usado, é escutado por uma audiência com “ouvidos de tísico”?

Depois do 25 de abril, a democracia parecia querer fazer jus à verdadeira aceção do nome. Inicialmente, foram eleitos 250 deputados para a Assembleia. 15 eram mulheres. Desde aí, a presença da mulher na esfera política tem crescido substancialmente. Ainda assim, 46 anos depois, a mulher continua a ser uma minoria sujeita a viver num mundo de e para homens.  De Maria de Lourdes Pintasilgo para a frente, foi sempre a descer.

Âncora 1
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